sábado, 8 de abril de 2017

Amando Esparta

         Queria dizer a ele que olhar para seu rosto era como declarar guerra a Troia. Tão poético quanto soa; tão perigoso quanto parece. Tinha medo de olhar por tempo demais, ter meus pensamentos descobertos como o esquema do cavalo de madeira.
Olhar para ele era como construir Pompéia: perto demais do desastre, vulnerável demais às chamas de seus olhos. Um risco que eu corria todo dia. Um que valia a pena correr.

Estar perto dele era como carregar uma faca para o Senado. (Você quer, e o faz, mas seu coração dispara o tempo todo e você sabe que é perigoso).
Tocá-lo era como a audácia de Ícaro (filho do desastre, irmão da tragédia). Querido, Apolo nunca mereceu tanto, e o Egeu nunca mais foi o mesmo. É possível querer tanto uma coisa a ponto de arruinar a própria existência para consegui-la?
(É)
Ouvir sua voz era ouvir a tempestade se formando no mar em Creta, e prever o fim do povo, o esquecimento de Minos. Era ficar na ilha mesmo assim. Era se entregar às ondas de quarenta metros, pois a catástrofe provava ser hipnotizante em seu perigo, bela em seu temor.
Sua existência em si era ver os jardins suspensos, construir bibliotecas, erguer palácios por amor. Existir perto dele era enterrar as flores, queimar os livros, ser sepultado em sua própria construção.
E amá-lo era como criar toda coisa bela no mundo. E ver todas ruírem.
Tudo ao mesmo tempo.

(april 4th, 2017)

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