segunda-feira, 23 de março de 2020

Oráculo interno.

Ao longo desses poucos anos, construí muitas Pompeias.
Carreguei muitos tijolos até os pés de vulcões que eu sabia que eram vulcões, e ergui reinos inteiros à beira do desastre. Respiro tragédia desde os 11 anos, então isso é de se esperar.
Eu já fui Pompeia e eu já fui o vulcão. Eu já fui o oráculo resignado e já fui o Vesúvio em seus sonhos. Eu sabia exatamente o que aconteceria se eu ficasse onde estava por mais um dia,
uma semana,
um mês. Dois.
E fiquei mesmo assim. Eu sabia exatamente onde estavam as minas terrestres que me lançariam aos ares, e passei por cima delas do mesmo jeito. Eu sabia. Eu nunca fui tão tola.
Mais importante do que a tolice é a forma como você protege a tolice.
E eu protegi a minha com unhas e dentes, 
mostrando minhas cicatrizes para ilustrar a Posição de Vítima na qual eu sempre acabo caindo no final do livro. Mas eu tenho alma de raposa, esperteza de corvo, espírito de lobo e olhos de floresta. Pulmões cheios de escombros poeirentos, pernas cheias de ácido lático da corrida para longe dos meus desastres, um rosto cheio de crateras e uma mente mais rápida que a luz. O que chamamos de intuição são simplesmente coisas que eu sempre soube e abafei os sons com panos quentes.
Eu sabia quando disse o primeiro sim,
sabia quando nunca perguntei se eles tinham certeza,
sabia quando eu mesma não tinha,
sabia quando os terremotos vieram e tive
finalmente certeza
quando a primeira fumaça saiu dos meus vulcões.

A graça está em não saber exatamente como isso tudo vai explodir. Está em querer desesperadamente descobrir.

(oct, 2019)

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