domingo, 21 de abril de 2019

A breve pausa da alegria.

Talvez
todo esse sentimento ruim seja herança de tempos passados
em que todos os meus medos eram reais
e justificáveis.
Quando eu passava meus dias numa gaiola de alumínio pintado de ouro
(às vezes, quando bato as asas muito forte, ainda consigo sentir as barras. é uma dor de membro fantasma.)
Agora
que voo com os dragões ao invés de temê-los,
que todas as fogueiras que vejo são para me aquecer, e não me queimar,
que meu coração é meu colete salva-vidas, e não uma pedra no Mar de Lágrimas,
que posso andar e dançar descalça sem medo de pisar em meus próprios cacos, 
os medos são só sombras.
E seguir alguém é parte da natureza das sombras,
e com isso quero dizer que 
meus medos 
me seguem
nos melhores dias.
Nos piores, chegam a segurar minha mão.
mas eu já não os abraço.
e eles sussurram,
insistentemente, 
quando o dia está quieto e o amor é silencioso.
mas eu não me permito esquecer
que o amor ainda assim está lá.
Meus medos são
pequenas criaturas coloridas 
e bagunceiras.
O Abandono é vermelho-vinho, o Conflito é azul-tempestade, a Vergonha é laranja e o Silêncio é verde.
Consigo vê-los pelo canto do olho
mesmo quando estou encarando a personificação do próprio sol.
Me construí para ser um lar, mas ninguém planeja ser uma casa um pouquinho mal-assombrada.
Dentro de mim 
há correntes de ar frio inexplicáveis e sombras impertinentes;
mas a porta está sempre aberta, e as janelas são decoradas com flores amarelas.
O piso range, mas é firme.
Se for entrar, limpe os pés.
É um lugar bom;
fica melhor a cada dia.
Espero que decida ficar. 
(april 21st, 2019)

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