quinta-feira, 26 de abril de 2018

O fim do fim.

Há uma diferença tangível entre o que foi e o que é. (Esse sorriso fácil nem sempre esteve aqui). O que você esperava encontrar aqui? Aposto que não eram essas flores em plena floração, ou ombros tão leves. (Uma surpresa das boas, hein?)
É claro que toda aquela conversa sobre rosas murchas e céus escuros deve estar em algum lugar, mas ninguém vai achar nada parecido por aqui. (Ouvi dizer que o Museu de Sentimentos tem tudo isso em exposição permanente, se realmente estiver curioso).
Guerras deixam rastros de destruição, é claro. (Vai dizer a eles ou eu digo?) Permita-me: deixamos o Japão no chinelo com essa reconstrução. (Deus, você soa tão orgulhosa dizendo isso) Não é verdade? (Pode ser).
Pois bem, não há sinais de Guernica por aqui (ande mais devagar e com certeza vai encontrar uma pedra manchada de algo vermelho e suspeito). Bom, se procurar você pode encontrar qualquer coisa. Agora fique calado, sim? Estou tentando me exibir. 
Onde estava... (falando de Picasso)
Ah! Sim, gostaria de saber quem foi o primeiro bisão selvagem que disse "a arte da guerra". Guerra é exatamente a ausência de arte, a destruição dela. Escondemos o conteúdo dos museus em tempos de guerra, pelo amor de Deus! Do mesmo jeito, em tempos de crises e grandes tristezas, perdemos de vista a obra de arte que somos.
Agora, se me disser que a arte é uma maneira de sobreviver à guerra, então concordarei. Já superamos muitas munidos apenas de papel e caneta. (Ah, sim... a estátua do soldado sentado escrevendo erguida no centro é a minha favorita).
A questão e o final disso tudo é que fizemos um ótimo trabalho nos reconstruindo... (mas não trabalhamos sozinhos). Não. Jamais. Precisamos de ajuda até para parar em pé, e Deus sabe. 
Mas olhe ao redor. (Estou olhando). Tudo aqui é remendado. Nada está do jeito que foi construído originalmente, e as ruas foram pavimentadas por cima de destruição. As flores não são da mesma espécie que costumavam ser, e o Museu está cada vez mais cheio de histórias para contar. Pisamos com cuidado mesmo sabendo que não há mais buracos. Todos os muros tiveram que ser repintados e as cores já não são as mesmas. 
(Hum.) Mas me diga. (Sim?)
Não é lindo?
(april 17th, 2018)

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