quinta-feira, 31 de maio de 2018

Conte suas perdas.

O que você faz
Quando o seu corpo não parece seu 
Quando a sua voz não parece sua
Quando nada mais te pertence? 
É uma coincidência - por falta de uma palavra apropriada - estranha: 130 anos separam a inauguração do que sempre foi o maior símbolo da minha cidade natal.. e sua destruição.
Ele costumava ficar de pé no centro, e eu demorei muito tempo para parar e observá-lo de verdade. Nunca o entendi. Mas sempre o admirei pelo que ele era: um motivo de orgulho. Era nossa identidade.
É uma coincidência estranha que dois dias antes do final do ano passado, o relógio do sol tenha sido destruído por uma tempestade.
O que é essa cidade sem ele?
Não confundam isso com algum tipo de patriotismo em pequena escala: sei que essas coisas acontecem. O que se pode fazer?
Quero dizer que por muito tempo ele foi nosso. E agora o que temos?

Chamo de coincidência pois este é um ano desafiador.
É o ano da perda de identidades antigas, de me olhar no espelho e ver uma estranha, de não concordar mais com muito pensamento. É o ano de mudar de ideia. É o ano da honestidade sofrida. É o ano em que descobri que tudo o que eu sabia sobre mim não cabe mais nessa vida, e o ano em que foi preciso jogar tudo fora. Tudo. Ficar vazia.
Não sei quando perdi meu relógio do sol. Sei que não o tenho mais. Do mesmo jeito que a cidade.
Perdi muita coisa a mais no processo.

É, Franca.. começamos o ano perdendo o RG. Será que o encontraremos em breve?
Ou será que encontraremos algo diferente? Algo que seja mais a nossa cara.

É esperar pra ver, eu acho…
Por agora, me sento sozinha nas noites de sábado e ouço Leoni: o que não faria um ano atrás.
Mas também… não sei quem era essa pessoa que usava meus sapatos um ano atrás.
Ela não existe mais.


"O que restou, o que dizer, pra quem ligar, aonde ir? 
O vazio total e a urgência de recomeçar
Em que casa, em que rua, em que mundo eu vou morar?"

(may 31st)

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