quinta-feira, 5 de julho de 2018

Não tão rápido.

"Lett, senta aqui do meu lado, deixa eu te falar um negócio."
Sentei.
"Acho que é hora de usar o colar."
Senti vontade de perguntar que colar, mas sabia muito bem qual era. 
"Não sei, não..."
"Já faz bastante tempo... aposto que não queima mais as suas mãos."
Silêncio.
"Tente. Se te apertar você tira. Mas acho que precisamos tentar." 
Entendo. Em algum ponto é preciso dar sinal de superação, como descobri. As pessoas deixam rastros, é inevitável no final. Principalmente quando não esperam ir embora. Aí ela fica em todo lugar, do seu guarda-roupa à galeria do celular. Mas as pessoas vão. Elas sempre foram.
E então aprendemos que talvez tenhamos deixado-as carregar mais culpa do que deveriam. Talvez tenhamos tirado o peso das costas de Atlas e colocado nas deles.

Eles erraram, mas será que erraram sozinhos? 

Não.

E quando percebemos isso? 

Tarde demais. 

Quando eles já estão com os ombros curvados pelo peso. Não adianta mais pegar nossa parte da culpa. 
Então o que podemos fazer? 

Perdoar. A nós mesmos, aos outros... 
E usar o colar. 
É um colar bonito. 

"Viu só? Não está te enforcando!"
"É, acho que não. Está tudo bem." 
"Sim! Agora vamos, podemos ouvir música no caminho. Que tal All Star?" 
"Não."

Silêncio.

"All Star não. Escolha outra coisa."

(may, 2018)

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