terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Uma página dourada no meio de tanto laranja.

  No fim do mundo, vão sobrar baratas, silêncio, alguns blocos de tijolo e... amor.
  O amor vai estar em toda parte, mesmo que nós não estejamos. 
  Será  possível ouvir ecos da era dourada do amor (que durou tanto quanto o próprio tempo), e se houvessem corações no fim do mundo, eles sentiriam uma dor inimaginável ao lembrar de como era fácil quase poder tocar o amor. No fim do mundo, será apenas uma dor fantasma; uma brisa que você mal consegue sentir. 
  O amor não será lembrado, nem celebrado, no fim do mundo. Não. Não é isso que ele quer. O amor só quer ser sentido e fazer alguma diferença agora, quando o mundo ainda é mundo e as pessoas ainda escrevem canções sobre ele. 
  O amor sabe aproveitar o tempo que tem. E sabe quando é tempo de ir embora.
  E o amor não será lembrado no fim do mundo (porque as baratas não o sentem, o silêncio o esconde, e os tijolos estão ocupados virando argila novamente), mas ele se lembrará. 
  Ah, ele se lembrará de todos nós. 
  Como nos encantou e destruiu da mesma forma, como provocou uma ou duas guerras (não foram seus momentos de maior orgulho), como gostava das canções... 
  Como era aquela mesmo...? 
  Algo sobre borboletas, zebras e contos de fada... 
  Gostava especialmente dessa. 
  No fim de todas as coisas para as quais o fim chega (o que não inclui baratas, silêncio e tijolos), o amor vai se sentir satisfeito. 
  Fez tudo o que podia. 
  Sua função nunca foi salvar o mundo.
 O amor vai continuar por aí, suspirando a cada memória, passando por cima de alguns tijolos, evitando pisar nas baratas e aproveitando o silêncio. 
  Deus sabe que houve muito pouca quietude quando o mundo era inteiro. 
  Vai descansar, com a paz de saber que, nesse mundo onde tudo é passageiro, ele estava no seleto grupo de coisas que não acabou. 
  Mais que isso: era a única coisa no mundo que sobreviveria a tudo e qualquer coisa. A única coisa que é verdadeiramente imortal, mesmo que pareça ter desaparecido por um tempo. 
  Vai continuar existindo, finalmente com tempo nas mãos. Se é que ainda existirá o conceito de tempo...
  Não, não existirá. 
  No fim do mundo, vão sobrar baratas, silêncio, alguns blocos de tijolo e... amor.
(dec. 11, 2017)

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