No fim do mundo, vão sobrar baratas, silêncio, alguns blocos de tijolo e... amor.
O amor vai estar em toda parte, mesmo que nós não estejamos.
Será possível ouvir ecos da era dourada do amor (que durou tanto quanto o próprio tempo), e se houvessem corações no fim do mundo, eles sentiriam uma dor inimaginável ao lembrar de como era fácil quase poder tocar o amor. No fim do mundo, será apenas uma dor fantasma; uma brisa que você mal consegue sentir.
O amor não será lembrado, nem celebrado, no fim do mundo. Não. Não é isso que ele quer. O amor só quer ser sentido e fazer alguma diferença agora, quando o mundo ainda é mundo e as pessoas ainda escrevem canções sobre ele.
O amor sabe aproveitar o tempo que tem. E sabe quando é tempo de ir embora.
E o amor não será lembrado no fim do mundo (porque as baratas não o sentem, o silêncio o esconde, e os tijolos estão ocupados virando argila novamente), mas ele se lembrará.
Ah, ele se lembrará de todos nós.
Como nos encantou e destruiu da mesma forma, como provocou uma ou duas guerras (não foram seus momentos de maior orgulho), como gostava das canções...
Como era aquela mesmo...?
Algo sobre borboletas, zebras e contos de fada...
Gostava especialmente dessa.
No fim de todas as coisas para as quais o fim chega (o que não inclui baratas, silêncio e tijolos), o amor vai se sentir satisfeito.
Fez tudo o que podia.
Sua função nunca foi salvar o mundo.
O amor vai continuar por aí, suspirando a cada memória, passando por cima de alguns tijolos, evitando pisar nas baratas e aproveitando o silêncio.
Deus sabe que houve muito pouca quietude quando o mundo era inteiro.
Vai descansar, com a paz de saber que, nesse mundo onde tudo é passageiro, ele estava no seleto grupo de coisas que não acabou.
Mais que isso: era a única coisa no mundo que sobreviveria a tudo e qualquer coisa. A única coisa que é verdadeiramente imortal, mesmo que pareça ter desaparecido por um tempo.
Vai continuar existindo, finalmente com tempo nas mãos. Se é que ainda existirá o conceito de tempo...
Não, não existirá.
No fim do mundo, vão sobrar baratas, silêncio, alguns blocos de tijolo e... amor.
(dec. 11, 2017)
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