Há uma sala. As paredes, pretas, e o chão imita; não há portas. Há apenas uma sala.
Nós estamos parados de pé, perfeitamente alinhados, um na frente do outro. Você está longe o suficiente para eu não poder te tocar, mas perto o suficiente para eu te ver inteiro.
A luz vem de algum lugar, mas não traz claridade. Seu rosto é marcado por sombras, e há reflexos no piso.
Estamos descalços, e algo não deixa nossos pés tocarem diretamente o chão.
Estamos pisando em sangue.
Nosso sangue.
Nós o arrancamos um do outro.
Ele pinga dos meus dedos, escorre pelos meus braços e pernas.
Não vejo nada pingar de você.
Mas sangue é sangue, e eu sei que nem tudo aqui é meu.
Me ensine como estancou o seu.
Estamos em silêncio. Ouço meu coração, mas não o seu. Nunca o seu. Não dizemos nada. Não há nada a ser dito.
Algo sobre como nunca mais seremos os mesmos.
Algo sobre a descoberta de que o amor é muito, mas não é tudo. A descoberta de que precisamos de mais. E de que não temos mais.
É difícil respirar.
Lágrimas se misturam com o suor de um cansaço que não nos larga. Sal é sal.
Nada aqui é belo. Nada aqui deve ser visto como uma linda catástrofe, ou algo a ser exibido. E nós dois somos muito bons em esconder. Você sempre foi melhor que eu. Nenhum de nós diz o quanto está doendo. Mas ainda sinto essa faca fincada nas costelas. E arde.
A sala é o fim.
Qual de nós vai deixá-la para trás e esquecê-la primeiro?
(feb 20th, 2018)
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