quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Flor de adeus.

Essa é a última primavera que eu passo nesse lugar. 
Tenho prestado atenção nos ipês há alguns anos agora, e eles nunca perderam a graça. Rosa e amarelo são as melhores cores para decorar uma cidade como essa, um personagem principal na história da minha vida até agora. 
Então, a dos 17 é a última primavera que eu passo por aqui. E a maior. 
Só agora começo a aprender de verdade que as estações são cíclicas, assim como todo o resto. Nenhum inverno de nossas almas ultrapassa seu tempo, e os ipês sempre florirão depois das mais longas esperas congelantes. As chuvas sempre vêm. Tudo se inunda e se afoga e desaparece e então renasce. As jabuticabeiras se vestem de noivas novamente, e as flores de manga caem com o balanço dos pardais em seus galhos. 
As floradas por toda a cidade ensinam mais uma vez que é só quando nos permitimos deixar o tempo passar, e o inverno acabar, é que as coisas mais lindas brotam. E brotam aos montes; seja na forma de poiséntias nos canteiros centrais ou na forma de antigas amizades se aventurando mais fundo todas as manhãs.
Tudo flui, ao final de contas. 
Permitir a nós mesmos fluir é um presente que merecemos já há muito tempo.
(august, 2019)

Nenhum comentário:

Postar um comentário